domingo, maio 21, 2006

Anda algo no ar...

Éverdade. Eu nem acredito. Alguma coisa anda a pairar... A vida está prestes a mudar? Para melhor? Para pior? Não sei responder. Aliás, cada vez pareço saber menos. Ainda que esteja cada vez mais convicto daquilo que não quero. O que não significa que esteja mais longe. Apenas mais consciente, porventura.
Afinal, de onde provém esta minha ânsia pela mudança? Será uma mera aversão à rotina ou uma inata insatisfação com o presente? Nem uma, nem outra hipótese me convencem. Aliás, a mim não me convencem com facilidade... Embora às vezes assim pareça.
Sempre gostei de desafios. E já tive alguns, acreditem. Todos superados? Hesito na resposta - mas nunca na preserverança que ponho em ultrapassar todos e cada um deles. E no futuro, não há-de ser diferente.
O balanço que hoje me permito fazer, diz-me que o desconhecido é arriscado, é naturalmente e por si só, incerto, mas traz com ele uma dose extra de adrenalina que faz a máquina bater mais intensamente. E afinal, a vida quer-se intensa. Ou não será?

Quatro anos após chegar a terras escalabitanas, sinto que arranhei muito, soei as estopinhas com alguns nós no estômago pelo meio, mas fui construindo o meu sítio, a pouco e pouco, qual novilheiro que de pueblo em pueblo vai ganhando em cada tanda de uma qualquer tarde de toiros a posição que lhe permita continuar a sonhar. E sonhar não custa. Custa é "aterrar".
Hoje, olho para o caminho já trilhado na lezíria e tenho ideias claras sobre o assunto. Foi uma óptima experiência! Nunca duvidei. Nem por um segundo apenas. Fui decidido! E decididamente certeiro. O País não se podia resumir a Cascais e à cada vez mais cosmopolita Lisboa, com a qual mantenho uma crescente identificação. Tinha de ser mais do que isso. E é mesmo. Muito mais. Estranhamente, não vi nas pessoas grande conhecimento sobre a vida do campo e da ruralidade em geral. As pessoas com quem mais privei, vivem essencialmente fora de Santarém. Mas mesmo assim, sabem quanto tempo demoram aos seus destinos. Só não sabem o privilégio que isso pode ser. Ainda que tão pouco percebam de horta. O que sinceramente me admirou. Não foi, portanto, por aí que caminhou a riqueza desta minha experiência.
Sempre pensei que ia gostar de Santarém e confirmo-o agora. Tem defeitos? Quem os não tem... Não é a cidade taurina que infelizmente já temia que não fosse. Essa realidade já trataram de a engavetar num beco mais ou menos escuro, em circuito fechado e frequentado basicamente pelos costumeiros, sem qualquer transversalidade social. E é pena. Porque cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso. E esse "uso" está irremediavelmente perdido. Independentemente de se gostar mais ou menos de "ir aos toiros", seria um imperativo de indentificação e diferenciação cultural mais do que uma questão de afición. Afinal, nem uma coisa, nem outra.