sábado, outubro 21, 2006

Cá estou eu de volta ao burgo...

É verdade, estou de volta. Custa-me sempre partir, mas agrada-me sempre chegar à Portela. Não que me agrade especialmente o aeroporto e os seus pastelosos serviços de handling, nem tão pouco a chuva diluviana que se abateu sobre a capital, a qual, provavelmente, tinha por único escopo recordar-me que na capital federal de onde provinha, o tempo era ameno, a chuva escassa e oportuna (ou seja, nunca dava por ela) e o próprio Sol fazia questão de pousar discreto sobre a cidade porteña, sem vergonha, mas tão pouco abusivo e que a corrida do táxi ia ser a injecção letal que me traria de volta à nossa realidade.
Foi assim que me fiz a terra, entre executivos de ar bastante "lavadinho", cuja nacionalidade era desde logo identificável, na sua versão masculina(quanto mais não fosse), através do logo das camisas "P&H" Pedro del Hierro (que, note-se, não são nem bonitas, nem baratas;apenas espanholas). Para já não falar do gel, que, ando cá desconfiado, deve descair mais para a brilhantina das drogarias de outros tempos, mas que pelos vistos, apesar de gasta em idade, não perdeu em graça social. São gostos. Bizarros, é certo...mas gostos.
A viagem havia sido curta, mas turbulenta até demais. Tempo apenas para uma leitura rápida na literatura matutina bastamente oferecida, porque, afinal, o avião ia a meio gás, não havendo, por isso, necessidade de rogar à altiva hospedeira de rodillas en el suelo, por um pasquim que não fosse o jornal oficial da Iberia.
Não, desta vez havia literatura em fartura e aproveitei logo para antecipar as notícias portuguesas, lendo as ditas espanholas. Passo a explicar, li a dado passo do diário ABC que as empresas eléctricas espanholas reclamavam por um aumento da electicidade na ordem dos 20%. Pensei para comigo: "Portugal já está na calha para igual chacina em beco escuro (sem direito a electricidade, claro está)".
Infelizmente, a minha capacidade de antecipar estas "santas" e lusitanas importações, quase poderiam fazer de mim um tarólogo de peito feito, com direito a aparição televisiva nos horários cujo target é de insónias, fazendo feroz concorrência à "pequena" curvilínea que lá vai desfiando o seu corpinho a bem da espantosa geringonça que ainda há-de fazer aos seus clientes aquilo que muitas e boas comezainas não lograram até ao momento obter: gastar uma fortuna, sem qualquer prazer em troca e ainda com menores resultados.
Mas não. Não chego para tarólogo, porque, infelizmente nos dias que correm, não é preciso saber ler as cartas e outras bujigangas do género para saber que tudo o que de mau se passa com os nossos vizinhos acabará, mais cedo do que mais tarde, por aterrar em Portugal com turbulência similar à do meu vôo Madrid-Lisboa. Aliás, ultimamente adequa-se como uma luva o velho dito luso (do qual eu até nem sou fã) segundo o qual: "De Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos". Particularmente agora que a Moncloa está entregue a um verdadeiro desgoverno, o perigo do vento que sopra de Este toma proporções bem mais preocupantes. A culpa não é da vizinhança, é desta farsa global a que ultimamente se agarram cada vez mais os políticos segundo a qual a legitimação das medidas políticas internas começa e acaba simplesmente na aplicação de medidas similares em diferentes países da União.
Três dias depois aí estava a "bomba": a electricidade iria subir 15,6%. Fiquei indignado não pelas consequências práticas da notícia, mas pela previsibilidade que a mesma revestia. Pelo menos, que fossem originais, mas não, aí está uma inevitabilidade. E lá véem os arautos da economia: "É assim, vejam em Espanha, por exemplo!" Só não foi assim, porque o Sr. Secretário de Estado da Energia logrou fazer bastante pior. No fundo, desta feita mudou-se de carrasco, a política do copy-paste é que continua e continuará, infelizmente, a ser a mesma. E agora, um aumento de cerca de 6 a 8%, até parece, aparentemente, uma boa notícia. Há coisas fantásticas, não há !?!?!?
Era suposto deixar umas notas sobre as terras porteñas, mas está visto que não será hoje. Simplesmente, foi mais forte que eu.