segunda-feira, junho 26, 2006

Blogoesférico

A blogoesfera é um verdadeiro mundillo que merece ser descoberto. Há de tudo para todos os gostos. Destes blogues partidariamente alinhados e militantemente alimentados, a outros dedicados a causas concretas, passando ainda pelos monotemáticos na área da economia, sondagens, política externa etc.
Mas têm quase todos eles um denominador comum, o elevado cunho pessoal conferido pelo respectivo blogger. É esse o segredo do sucesso quantitativo dos blogues que diaramente dão à luz na blogoesfera. A visão objectivamente subjectiva que subjaz a cada um deles. Ou seja, a transparência de quem a priori não desconhece que está perante o teor de algo que corresponde a uma perspectiva das coisas, do mundo, do que seja e não à verdade ou à perspectiva oficial sobre determinado tema ou assunto. É isso, a blogoesfera é a resposta cibernética dos cidadãos mais ou menos anónimos ao poder da comunicação. O poder de serem potencialmente ouvidos, de poderem passar a sua visão e a sua mensagem. Poder de comunicação esse, que estava até ao seu aparecimento, praticamente confinado à oficialidade informativa disponibilizada pelos sítios mais ou menos institucionalizados.
A blogoesfera é o espelho do que é oficioso. E o oficioso é sempre múltiplo e quase sempre contraditório, para o bem e para o mal. Hoje, a partir de um blogue, é possível estar a par de toda a actualidade nacional ou internacional, na sua versão oficiosa, sem necessidade de aceder à pardaçenta oficialidade dos meios de comunicação tradicionalmente instituídos nas sociedades, que esconde muitas vezes o essencial e amplia o acessório. Convenhamos que os gabinetes de imagem e comunicação também precisam de ganhar a vida...e muito bem.
Há até bloggers que conseguem ganhar dinheiro com o assunto. Mas, no essencial, o objectivo primordial é o de serem "ouvidos". E pelos vistos são. Isto a julgar por uma recente notícia publicada no JdN, em que um pseudo guru internacional das relações públicas e comunicação chama a atenção ao business world para a crescente importância da blogooesfera e dos seus respectivos conteúdos na imagem das organizações que potencialmente os bloggers podem atingir. Chega mesmo a sugerir que é necessário monitorizar esse disseminado mundo bloguítico, por forma a garantir e assegurar uma mensagem positiva das organizações. Ora aí está um belo eufemismo: monitorizar. Se hoje por hoje fosse vivo, Hitler, no seu jeito ariano, mudaria concerteza a nomenclatura de "censura" para "monitorização". Afinal, entre um e outro vai um pequeno piaffé. E piaffés e outras "habilidades" eram mesmo a sua especialidade.
Tudo isto para concluir que a originalidade deste nóvel meio de comunicação reside na independência oficiosa posta por cada autor no seu blogue, dentro daquilo que se poderá apelidar de "deformada visão das coisas". No fundo, uma resposta aos meios políticamente correctos e socialmente assépticos, sem que tenha de ser necessariamente contra estes, mas apenas e só um meio alternativo de passar uma mensagem e uma visão que se quer rica em diversidade, a qual, por princípio, não padece do pecadilho original que a comunicação oficial hoje em dia representa - a altivez arrogante de quem pretensamente transmite a verdade.
Dito isto, fica por justificar o porquê da minha (ir)responsabilidade de criar este blogue. Mas isso sim, é outra história que fica para outro dia. Tudo a seu tempo.