sábado, junho 24, 2006

Champagne for two, please!!!


LEIO entrevista a Hugh Grant e confirmo as melhores suspeitas. O rapaz é bom. Mais: o rapaz é uma instituição britânica que interessa preservar. A propósito do seu último filme, comédia soft sobre um solteirão vazio e egocêntrico que encontra redenção num menino pré-púbere com mãe depressiva (violinos, violinos), perguntam a Hugh Grant se ele, tal como a personagem, não tenciona constituir família. Hugh, 40 anos, com aspecto de 30, confessa que a ideia tem algum appeal. O seu irmão, aliás, já iniciou as hostilidades com mulherzinha e prole alargada. Mas ele, Hugh, ainda não. Por enquanto. Por enquanto, Hugh Grant prefere «tomar martinis no bar do Ritz». Eu repito: martinis no bar do Ritz. Lemos o que lemos e sentimos que a civilização está salva. A começar pela britânica.
CONFESSO que tive medo. Visitava Londres com regularidade e regressava positivamente horrorizado com a grotesca juventude inglesa, avessa ao sabão, à gramática e às maneiras. O caso, aliás, era tão grave que mereceu discussão alargada na imprensa. «Por que motivo os nossos jovens são tão repelentes?», perguntava Theodore Dalrymple na Spectator, aplicando as teorias de Lombroso à canalha doméstica e confirmando as teses do teórico italiano: os jovens britânicos tinham na cara uma propensão dramática para a marginalidade. POIS BEM. Hugh Grant é um sinal. Um bom sinal. E uma contra-revolução a caminho. As suas palavras, aparentemente banais, reflectem uma atitude. Grande parte da cultura de massas tende para a vulgaridade - e as novas elites, sobretudo as elites do espectáculo, sentem uma repugnância instintiva pela distinção. George Walden explicou isso num livrinho simpático, intitulado The New Elites, que aconselho: para ele, as novas elites são aquelas que, longe de constituírem referência para a manada, visam sobretudo confundir-se com ela, adoptando os seus reles comportamentos. Seria impensável que um outro actor de cinema - um Tom Cruise, um Brad Pitt - optasse por «martinis no bar do Ritz». Isso seria antidemocrático e antipopular, dois pecadilhos imperdoáveis nesta cultura adolescente e plebeia, tiranizada pelo inevitável impulso igualitário. Com Hugh Grant, não. Com ele, não há cervejas em discotecas pelintras. Mas martinis no bar do Ritz.
DEUS seja louvado.
in jpcoutinho.com
Prosa verdadeiramente soberba, esta do JPC. É, a meu ver, um dos grandes talentos emergentes no que à escrita concerne. Uma "cabeça" que é uma referência.
Nem sempre concordo com o que diz, felizmente. Para bem da minha sanidade mental (que, a propósito, já conheceu melhores dias). Mas reconheço-lhe o essencial: o humor, a sagacidade, a crítica social e a ironia ímpares que fazem dele uma figura incontornável nesta área. E agora pergunto eu? Qual área? Perguntar não ofende, o pior será responder. Aceito sugestões.
Nota: ao ler a zona assinalada a negrito, rapidamente me recordei de uma amiga (cuja identidade será preferível não divulgar) que nutre idêntico gosto por bares e esplanadas de hotéis tão simpáticos ou mais que o Ritz londrino. Basta que sejam simpáticos. Os espaços, bem entendido. É caso para dizer: "já são dois" e assim a civilização está mesmo salva meu velho JPC, tudo em nome da velha aliança luso-britânica. Tal como Adão e Eva, "crescei e multiplicai-vos". O bom gosto ficaria eternamente grato.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Essa "nota" sinto que foi para mim. Foi mesmo? Pena é nunca ter encontrado o tal de Hugh... but we never know. O Kiko é que não ia achar graça nenhuma a um encontro assim...

jks

Mafalda

5:53 da tarde  

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