quarta-feira, junho 21, 2006

Gente sensata


"Uma nova Lei do Cinema não deve servir, como alguns pretendem, para obrigar os portugueses a ver os filmes que se fazem, mas para permitir aos portugueses fazer, enfim, filmes que se vejam».
António Pedro Vasconcellos
Dito desta forma nua e crua, parece uma evidência de la Palisse, mas a verdade é que, bem vistas as coisas, não se entende porque é que afinal é tão difícil fazer cinema português "que se veja" ?
Tenho de ser justo, não passo pelo cinema português há um bom par de anos (e não tenho saudades, mas tenho pena, isso sim!) e admito que, de lá para cá, algo tenha mudado na cinematografia lusa. Não é preconceito ou dogma meu, antes um trauma ainda mal curado que teve a sua génese há longos anos a esta parte no cinema King, ao tentar visionar um filme tão suculento como o nome deixava já antever: "Ossos". Não fosse a minha localização central no dito recinto e uma fila "estranhamente" apinhada de pseudo-cinéfilos persistentes e aparentemente rendidos na indiferença à banhada colectiva que presenciávamos e tinha-me pirado muito antes do relógio me mostrar à evidência que 5 minutos haviam passado com a lentidão própria de um "discurso" televisivo de Mário Zambujal.
Ainda nesta matéria, há pouco tempo e aquando da minha escapada madrilena me perguntavam, entre o incrédulo e o horrorificado, mas por que raio tinha eu ido ver um filme português? Duas interrogações aparentemente contraditórias tomaram conta do meu espírito :
1) Estou perante gente preconceituosa e que pensa (com alguma razão) que somos uma saloia província espanhola e como tal, cinema não anglo-saxónico, só mesmo o produzido pelo Pedro Almodôvar ?
2) Como é que alguém que eu sei de antemão tão afastado do panorama cinematográfico português, pode, logo à primeira, ser tão certeiro numa observação/indagação como aquela?
Eu por mim, entre o embaraço inicial da questão e a humilhação indogenamente contida (não estivesse eu no estrangeiro) ainda acredito que se venha a fazer cinema português que se veja, logo a resposta é óbvia: vou porque ainda tenho esperança. Só não sei bem quando, antes do "exílio", não certamente.
Só espero que não seja preciso vir o "Scolari" do cinema para que tal seja possível, até porque existe toda uma nova e talentosa geração disposta a fazer melhor. O que, convenhamos, será tudo menos difícil. Mas se assim tiver que ser, então que o seja. A bem da sanidade cinéfila nacional.