terça-feira, junho 13, 2006

De regresso à aldeia - Notas de Madrid - parte I

Foi um fim-de-semana intenso, pelo menos a avaliar pelo numero de quilómetros percorridos. Mas valeu a pena, aliás, Madrid vale sempre a pena, é Madrid e está tudo dito.
Em termos de restaurantes, muito ficou por visitar, não fosse ser uma cidade em que quase todas as semanas abrem novos espaços dignos de visita. Não há "escapadinhas" que aguentem tamanha dinâmica. Assim sendo - na impossibilidade de experimentar todas as novidades - optou-se por matar saudades das suculentas tapas da Lateral da calle Velásquez. E não desiludiram. Continua a ser um point muito acertado, mas recomendo que não se indo jantar muito cedo (até às 21H), então a alternativa é chegar a partir das 23H (cozinha encerra às 24H), porque de resto é verdadeiramente desesperante a espera por uma mesa. Mas vale a pena. Isto, claro, se olvidarmos a corbatera de ar duvidosamente masculino e rude que gere a chegada dos clientes e que vai chamando com uma tarimbada voz rouca e irritante os clientes aos seus lugares.
Já novidade foi a ida ao Olsen (c/ Prado), restaurante norueguês também existente em Buenos Aires. Decorado sobriamente ao estilo nórdico, resulta agradável à vista e ao estar, a que não é alheio o bom critério acústico do DJ de serviço. Nota de destaque para os cocktails de entrada, todos baseados em vodkas polacas, bem conseguidos na imagem e de agradável paladar, escondendo o elevado e conhecido volume alcoolémico da matéria-prima base. Quanto à ementa propriamente dita, não desmereceu a nenhum dos presentes o frango com cogumelos em vinagreta e pistachios ligeiramente caramelizados, tudo bem rematado com uma fatia de queijo de cabra. O mesmo se diga do magret de pato, muito apreciado, ainda que não me pareça uma escolha muito originalmente nórdica. Quanto aos vinhos, nota para uma carta bem variada quanto às suas origens e equilibrado nos preços, onde nem sequer faltava um Alvarinho português. Com uns entretens de boca, que é como bem diz com unas tapas simpáticas e essas sim mais originais, sempre acompanhadas com chupitos de vodka, é um restaurante que deu boa nota do que por ali se faz, sem que tenha sido um autêntico deslumbramento. Dipõe de um lounge bar na cave, mínimo nas dimensões mas sapiente na eleição musical, acaba por ser um espaço a levar em conta nem que seja apenas como local para a primeira copa da noite (http://www.elmundo.es/metropoli/2006/06/02/copas/1149199246.html. Por último, de referir a possibilidade de comer um sushi nórdico em que pontuam os peixes daquelas paragens, como é o caso do arenque.
Refeições à parte, foi o encontro com uma cidade que vivia intensamente o acontecimento de Domingo: a manifestação contra o terrorismo, a qual juntou em Madrid centenas de milhares de pessoas, vindas de toda a Espanha, as quais, entre outras coisas, contestavam a negociação política entre o Governo e os terroristas da ETA. E os espanhóis vieram em força para a rua. Ninguém pode imaginar o que é viver décadas de terror sob a égide da ETA e agora aceitar que se sentem uns e outros à "mesa das concessões".
Dizia-me alguém daquelas paragens que Zapatero está a destruir Espanha não só politicamente, mas também economicamente. De repente, veio-me à memória o nosso "saudoso" engenheiro, que tão pantanosamente nos deixou depois de uma deriva de despesismo acriterioso e simpatia oca de conteúdo e farta em consequências nefastas que hoje ( já sem a sua bonomia) começamos a pagar. Uma a uma.
A diferença é que Espanha tem efectivamente um poderio e uma pujança económica que Portugal jamais conhecerá, nem sequer a médio prazo. E por enquanto é esta vitalidade económica dos agentes que vai suportando a mais demagógica e kamikase governação espanhola dos últimos 20 anos. Sempre e sempre sob o alto patrocínio da Al-Qaeda, a qual através do 11 de Março elegeu o seu primeiro governo na velha Europa. Essa escolha tinha que ter um preço e este ainda não está totalmente à vista, mas que vai ser elevado, ai isso vai.