quarta-feira, junho 28, 2006

O milagre da multiplicação...



Pronto, o erro está feito. Já comecei a escrever sobre o Portugal-Holanda. Eu não queria, juro que não, mas lá terá de ser. Tudo por causa da arbitragem do dito jogo.
Infelizmente, confirmaram-se uma vez mais as minhas terríveis suspeitas: a corda "parte" sempre pelo lado mais fraco. Que o mesmo é dizer, pelo lado do árbitro. O sr. Yvanov foi o elo mais fraco e assim sendo, coube-lhe a ele a sempre triste figura do carrasco da "batalha" de Nuremberga. Estava escrito, havia que se honrar a história e lá nisso fomos exímios e certeiros.

Mas voltando ao ponto "x" da questão, folclore tablóide à parte, a verdade é que muito podemos agradecer ao Sr. Yvanov. Bem sei que não expulsou o jogador holandês aquando da falta sobre o C. Ronaldo, mas a verdade é que o cartão amarelo era efectivamente a medida disciplinar mais sensata. Afinal, estávamos no 4º minuto de jogo e se fosse ao contrário, era o o bom e o bonito - excesso de zelo, etc, etc. O árbitro teve a melhor das intenções ao não querer expulsar o holandês, esperando (com ingenuidade, é certo) que o jogo não desaguasse numa assertiva batalha de ceifadelas, cotoveladas e cabeçadas, como acabou por acontecer.
O árbitro foi, acima de tudo, muito brando e comedido. Para ambos os lados. Se por um lado a Holanda podia estar com 10 desde os 4 minutos, não será menos verdade que o mesmo poderia e deveria ter acontecido mais cedo a Costinha e Figo. Para já não falar na entrada "tipo Jacky Chan" protagonizada por Ricardo Carvalho sobre Robben (ainda que antecedida de fora-de-jogo).

Todos estes factos para concluir que o record de cartolinas mostradas apenas peca por escasso. Podia ter sido pior, muito pior. E para mim, não há árbitro que resista às asneiras perpretadas pela nossa selecção. Só nos podemos orgulhar de uma coisa: mantivemos sempre o fair play. Pelo menos, na perspectiva formal, porque quanto ao resto, estamos conversados.

O que não seria de esperar era que fosse o Sr. Blatter a iniciar as hostilidades contra os seus próprios árbitros, no caso o Sr. Yvanov, justamente por este ter cumprido (ainda que pecando por defeito) as recentes orientações da FIFA no sentido de punir exemplarmente os jogadores faltosos, usando para o efeito um crivo bastante apertado. Esquece o Sr. Blatter que foi responsável pela actuação do árbitro, e que, mesmo assim, fosse ele mais seguidista dos novos mandamentos da FIFA e o jogo poderia nem ter chegado sequer ao fim por falta de quórum.
A tudo isto o Sr. Blatter foi indiferente e na sua superveniente e arrogante sabedoria, mostrou a fraqueza de carácter e prsonalidade que lhe vai dentro, dando o dito por não dito, qual pai que enjeita o filho de sua criação. Afinal, as regras definidas pela FIFA, quando postas em prática (ainda que só parcialmente) são desastrosas e prejudicam o espectáculo, segundo o Sr. Blatter. Mas a culpa é do Sr. Yvanov, esse sim, devia ter sido "amarelado". Amarelo de vergonha devia ficar o Sr. Blatter por dizer os dislates que diz, com a sua habitual leviandade.

O Sr. Yvanov foi um árbitro de bem, com erros evidentes, mas minimamente coerente e sempre orientado por tentar "agarrar" um jogo que foi explosivo, tudo tendo feito para não estragar o espectáculo. Mas foi inevitável, os jogadores não lhe deram objectivamente outra saída. E foi, dos que esteve em campo, um mal menor .

Virada esta página, espero que os guerreiros portugueses, verdadeiros lutadores durante a segunda parte do encontro, não tenham esquecido a arte que os notabilizou no Euro 2004: a magia de jogar futebol - e levem de vencida a selecção inglesa, sem necessidade de recurso à arte pela qual ficou conhecido Hulk Hogan, o Wrestling.