sexta-feira, junho 30, 2006

A homenagem devida



A Fernando Ruas, o "pedradas"

quarta-feira, junho 28, 2006

O milagre da multiplicação...



Pronto, o erro está feito. Já comecei a escrever sobre o Portugal-Holanda. Eu não queria, juro que não, mas lá terá de ser. Tudo por causa da arbitragem do dito jogo.
Infelizmente, confirmaram-se uma vez mais as minhas terríveis suspeitas: a corda "parte" sempre pelo lado mais fraco. Que o mesmo é dizer, pelo lado do árbitro. O sr. Yvanov foi o elo mais fraco e assim sendo, coube-lhe a ele a sempre triste figura do carrasco da "batalha" de Nuremberga. Estava escrito, havia que se honrar a história e lá nisso fomos exímios e certeiros.

Mas voltando ao ponto "x" da questão, folclore tablóide à parte, a verdade é que muito podemos agradecer ao Sr. Yvanov. Bem sei que não expulsou o jogador holandês aquando da falta sobre o C. Ronaldo, mas a verdade é que o cartão amarelo era efectivamente a medida disciplinar mais sensata. Afinal, estávamos no 4º minuto de jogo e se fosse ao contrário, era o o bom e o bonito - excesso de zelo, etc, etc. O árbitro teve a melhor das intenções ao não querer expulsar o holandês, esperando (com ingenuidade, é certo) que o jogo não desaguasse numa assertiva batalha de ceifadelas, cotoveladas e cabeçadas, como acabou por acontecer.
O árbitro foi, acima de tudo, muito brando e comedido. Para ambos os lados. Se por um lado a Holanda podia estar com 10 desde os 4 minutos, não será menos verdade que o mesmo poderia e deveria ter acontecido mais cedo a Costinha e Figo. Para já não falar na entrada "tipo Jacky Chan" protagonizada por Ricardo Carvalho sobre Robben (ainda que antecedida de fora-de-jogo).

Todos estes factos para concluir que o record de cartolinas mostradas apenas peca por escasso. Podia ter sido pior, muito pior. E para mim, não há árbitro que resista às asneiras perpretadas pela nossa selecção. Só nos podemos orgulhar de uma coisa: mantivemos sempre o fair play. Pelo menos, na perspectiva formal, porque quanto ao resto, estamos conversados.

O que não seria de esperar era que fosse o Sr. Blatter a iniciar as hostilidades contra os seus próprios árbitros, no caso o Sr. Yvanov, justamente por este ter cumprido (ainda que pecando por defeito) as recentes orientações da FIFA no sentido de punir exemplarmente os jogadores faltosos, usando para o efeito um crivo bastante apertado. Esquece o Sr. Blatter que foi responsável pela actuação do árbitro, e que, mesmo assim, fosse ele mais seguidista dos novos mandamentos da FIFA e o jogo poderia nem ter chegado sequer ao fim por falta de quórum.
A tudo isto o Sr. Blatter foi indiferente e na sua superveniente e arrogante sabedoria, mostrou a fraqueza de carácter e prsonalidade que lhe vai dentro, dando o dito por não dito, qual pai que enjeita o filho de sua criação. Afinal, as regras definidas pela FIFA, quando postas em prática (ainda que só parcialmente) são desastrosas e prejudicam o espectáculo, segundo o Sr. Blatter. Mas a culpa é do Sr. Yvanov, esse sim, devia ter sido "amarelado". Amarelo de vergonha devia ficar o Sr. Blatter por dizer os dislates que diz, com a sua habitual leviandade.

O Sr. Yvanov foi um árbitro de bem, com erros evidentes, mas minimamente coerente e sempre orientado por tentar "agarrar" um jogo que foi explosivo, tudo tendo feito para não estragar o espectáculo. Mas foi inevitável, os jogadores não lhe deram objectivamente outra saída. E foi, dos que esteve em campo, um mal menor .

Virada esta página, espero que os guerreiros portugueses, verdadeiros lutadores durante a segunda parte do encontro, não tenham esquecido a arte que os notabilizou no Euro 2004: a magia de jogar futebol - e levem de vencida a selecção inglesa, sem necessidade de recurso à arte pela qual ficou conhecido Hulk Hogan, o Wrestling.

O fim de uma lenda






Com o encerramento da maternidade de Barcelos, não voltará a nascer nenhum galo por aquelas bandas.

segunda-feira, junho 26, 2006

Blogoesférico

A blogoesfera é um verdadeiro mundillo que merece ser descoberto. Há de tudo para todos os gostos. Destes blogues partidariamente alinhados e militantemente alimentados, a outros dedicados a causas concretas, passando ainda pelos monotemáticos na área da economia, sondagens, política externa etc.
Mas têm quase todos eles um denominador comum, o elevado cunho pessoal conferido pelo respectivo blogger. É esse o segredo do sucesso quantitativo dos blogues que diaramente dão à luz na blogoesfera. A visão objectivamente subjectiva que subjaz a cada um deles. Ou seja, a transparência de quem a priori não desconhece que está perante o teor de algo que corresponde a uma perspectiva das coisas, do mundo, do que seja e não à verdade ou à perspectiva oficial sobre determinado tema ou assunto. É isso, a blogoesfera é a resposta cibernética dos cidadãos mais ou menos anónimos ao poder da comunicação. O poder de serem potencialmente ouvidos, de poderem passar a sua visão e a sua mensagem. Poder de comunicação esse, que estava até ao seu aparecimento, praticamente confinado à oficialidade informativa disponibilizada pelos sítios mais ou menos institucionalizados.
A blogoesfera é o espelho do que é oficioso. E o oficioso é sempre múltiplo e quase sempre contraditório, para o bem e para o mal. Hoje, a partir de um blogue, é possível estar a par de toda a actualidade nacional ou internacional, na sua versão oficiosa, sem necessidade de aceder à pardaçenta oficialidade dos meios de comunicação tradicionalmente instituídos nas sociedades, que esconde muitas vezes o essencial e amplia o acessório. Convenhamos que os gabinetes de imagem e comunicação também precisam de ganhar a vida...e muito bem.
Há até bloggers que conseguem ganhar dinheiro com o assunto. Mas, no essencial, o objectivo primordial é o de serem "ouvidos". E pelos vistos são. Isto a julgar por uma recente notícia publicada no JdN, em que um pseudo guru internacional das relações públicas e comunicação chama a atenção ao business world para a crescente importância da blogooesfera e dos seus respectivos conteúdos na imagem das organizações que potencialmente os bloggers podem atingir. Chega mesmo a sugerir que é necessário monitorizar esse disseminado mundo bloguítico, por forma a garantir e assegurar uma mensagem positiva das organizações. Ora aí está um belo eufemismo: monitorizar. Se hoje por hoje fosse vivo, Hitler, no seu jeito ariano, mudaria concerteza a nomenclatura de "censura" para "monitorização". Afinal, entre um e outro vai um pequeno piaffé. E piaffés e outras "habilidades" eram mesmo a sua especialidade.
Tudo isto para concluir que a originalidade deste nóvel meio de comunicação reside na independência oficiosa posta por cada autor no seu blogue, dentro daquilo que se poderá apelidar de "deformada visão das coisas". No fundo, uma resposta aos meios políticamente correctos e socialmente assépticos, sem que tenha de ser necessariamente contra estes, mas apenas e só um meio alternativo de passar uma mensagem e uma visão que se quer rica em diversidade, a qual, por princípio, não padece do pecadilho original que a comunicação oficial hoje em dia representa - a altivez arrogante de quem pretensamente transmite a verdade.
Dito isto, fica por justificar o porquê da minha (ir)responsabilidade de criar este blogue. Mas isso sim, é outra história que fica para outro dia. Tudo a seu tempo.

O Porto revisitado

Isto é mau feitio, confesso: eu e o Porto, o Porto e eu. Há algo que não joga, há algo que não liga. Não tenho nada contra e muito a favor, mas ainda assim persiste um anticorpo mais forte do que a força da própria razão que me parece traçar o Mondego como uma qualquer linha de fronteira para lá da qual não devo passar. E porque não? Porque não sei. E quando não se conhece a causa, mais difícil se torna alcançar a cura, a sanidade, sei lá. Mas sei, no entanto, que já por diversas vezes a transpus e não me dei mal. Mas aquela linha imaginária, qual divisão do Tratado de Tordesilhas, mantém-se bem viva no meu mapa mental como área naturalmente a não "consumir". E contra a natural incorrigibilidade que acabo por cultivar, nem os factos são, por vezes, suficientes. E não me importo.
O que me importei mesmo foi de não ter ido ao S. João no Porto. Ainda não foi desta. Estava tudo apalavrado, e pelas palavras se ficou. É caso para dizer que quando um acordo se fica só pelas palavras, é porque não vale sequer a tinta das assinaturas. Provavelmente, foi melhor assim. Estava tão dividido como então o mundo em Tordesilhas. Essa divisão não durou muito e o meu tratado mental não terá certamente melhor e diferente futuro.

NOTA: Cidade envolta em controvérsias que quase sempre lhe são alheias, não fosse o seu maior ícone mediático ser quem é. À parte destes carnavais e futebóis, dois blogues (e respectivos links) sobre o Porto a merecer uma saltada:

http://outra-face.blogspot.com/
http://cidadesurpreendente.blogspot.com/

sábado, junho 24, 2006

Champagne for two, please!!!


LEIO entrevista a Hugh Grant e confirmo as melhores suspeitas. O rapaz é bom. Mais: o rapaz é uma instituição britânica que interessa preservar. A propósito do seu último filme, comédia soft sobre um solteirão vazio e egocêntrico que encontra redenção num menino pré-púbere com mãe depressiva (violinos, violinos), perguntam a Hugh Grant se ele, tal como a personagem, não tenciona constituir família. Hugh, 40 anos, com aspecto de 30, confessa que a ideia tem algum appeal. O seu irmão, aliás, já iniciou as hostilidades com mulherzinha e prole alargada. Mas ele, Hugh, ainda não. Por enquanto. Por enquanto, Hugh Grant prefere «tomar martinis no bar do Ritz». Eu repito: martinis no bar do Ritz. Lemos o que lemos e sentimos que a civilização está salva. A começar pela britânica.
CONFESSO que tive medo. Visitava Londres com regularidade e regressava positivamente horrorizado com a grotesca juventude inglesa, avessa ao sabão, à gramática e às maneiras. O caso, aliás, era tão grave que mereceu discussão alargada na imprensa. «Por que motivo os nossos jovens são tão repelentes?», perguntava Theodore Dalrymple na Spectator, aplicando as teorias de Lombroso à canalha doméstica e confirmando as teses do teórico italiano: os jovens britânicos tinham na cara uma propensão dramática para a marginalidade. POIS BEM. Hugh Grant é um sinal. Um bom sinal. E uma contra-revolução a caminho. As suas palavras, aparentemente banais, reflectem uma atitude. Grande parte da cultura de massas tende para a vulgaridade - e as novas elites, sobretudo as elites do espectáculo, sentem uma repugnância instintiva pela distinção. George Walden explicou isso num livrinho simpático, intitulado The New Elites, que aconselho: para ele, as novas elites são aquelas que, longe de constituírem referência para a manada, visam sobretudo confundir-se com ela, adoptando os seus reles comportamentos. Seria impensável que um outro actor de cinema - um Tom Cruise, um Brad Pitt - optasse por «martinis no bar do Ritz». Isso seria antidemocrático e antipopular, dois pecadilhos imperdoáveis nesta cultura adolescente e plebeia, tiranizada pelo inevitável impulso igualitário. Com Hugh Grant, não. Com ele, não há cervejas em discotecas pelintras. Mas martinis no bar do Ritz.
DEUS seja louvado.
in jpcoutinho.com
Prosa verdadeiramente soberba, esta do JPC. É, a meu ver, um dos grandes talentos emergentes no que à escrita concerne. Uma "cabeça" que é uma referência.
Nem sempre concordo com o que diz, felizmente. Para bem da minha sanidade mental (que, a propósito, já conheceu melhores dias). Mas reconheço-lhe o essencial: o humor, a sagacidade, a crítica social e a ironia ímpares que fazem dele uma figura incontornável nesta área. E agora pergunto eu? Qual área? Perguntar não ofende, o pior será responder. Aceito sugestões.
Nota: ao ler a zona assinalada a negrito, rapidamente me recordei de uma amiga (cuja identidade será preferível não divulgar) que nutre idêntico gosto por bares e esplanadas de hotéis tão simpáticos ou mais que o Ritz londrino. Basta que sejam simpáticos. Os espaços, bem entendido. É caso para dizer: "já são dois" e assim a civilização está mesmo salva meu velho JPC, tudo em nome da velha aliança luso-britânica. Tal como Adão e Eva, "crescei e multiplicai-vos". O bom gosto ficaria eternamente grato.

quinta-feira, junho 22, 2006

Fechado. Dirija-se à Assembleia da República mais próxima, s.f.f.

21 de Junho de 2006, 20:03 h - noticiário televisivo
Na ressaca da vitória lusa contra os do "chili" e não contra os chilenos, lá vai (durante o jogo-já somos 3, eu, a repórter e o presidente Cavaco...que não vimos o jogo) uma inefável repórter de rua à descoberta de "uma agulha num palheiro", que é como quem diz, à procura de uma Lisboa deserta. Contra-senso e paradoxo à parte, esta afã iniciativa deu de caras com uma figura pública ou pseudo-pública - Maria do Céu Guerra. Grita a repórter para os seus botões: Que furo jornalístico!!! Não me escapas!!! Emoções e ambições pessoais à parte, lá desbobina a senhora aquele arrazoado de perguntas típicas: não está a ver Portugal jogar? Mas não gosta de ver Portugal? e por aí fora...
A páginas tantas, tendo Maria do Céu Guerra respondido (visivelmente agastada, para ser simpático) que tinha estado nas Finanças a tratar de uma data de problemas e papeladas d´A Barraca, eis quando a ingénua e porventura estagiária repórter aproveita a dica para perguntar se os respectivos funcionários estavam a trabalhar. A "nossa" Maria do Céu Guerra, entre o mordaz e o sarcástico viperino respondeu qualquer coisa deste género (que espero ser o mais fiel possível aos factos) : "Bem... sim... estão lá todos sentados às secretárias a olhar para um computador... aquilo a que "eles" chamam trabalhar". Fico mais descansado, graças a Deus que foi às Finanças e não à Assembleia da República, senão é que ia ver o quer era trabalhar...para as audiências televisivas. (mas até pode ter razão, é que o desígnio nacional não passa infelizmente por S. Bento)
Mas nas Finanças, não. Nas Finanças não trabalham, sentam-se à secretária, apruma-se o monitor e aqui vai disto até à reforma (que se quer temprana). Foi uma grande cobardia o que disse e como o disse, uma pessoa profissionalmente respeitável, mas ainda assim, pura cobardia.
Antes era porque se agarravam aos papéis, uma burocracia infindável, etc, etc. Agora é porque se agarram aos computadores... Não há, de facto, quem nos possa entender. Nem o choque tecnológico nos salva, está visto e posto.
Para não me alongar em demasia (nem sequer devia ter começado), recordar apenas a esta prestigiada artista que aquilo a que "eles" chamam trabalhar, é nem mais nem menos, contribuir
para a percepção da receita fiscal que tanta falta faz (sobretudo nos dias de hoje) a este cantinho da lusofonia tão cheio de chico espertice e economia paralela. Receita essa que ainda há-de ir (mais do que provavelmente) em parte parar às mãos d´A Barraca, para que possa dar execução aos seus projectos artísticos.
Mas a cidadania em Portugal resume-se a isto: direitos aos cidadãos e deveres aos Estado; responsabilidades e culpas no cartório, aí benvindos a terra de ninguém. Preferindo-se sempre atacar pelas costas através de uma demagogia fácil sempre à mão, quem felizmente (porque foi um sofrimento) nem o jogo espreitou, porque afinal o computador não deixou. É pena e triste, sobretudo vindo de quem vem.
Compreendo agora, ouvida esta "farpa" caluniosa, que muito ignorante vá ao teatro, olhe para aquele espectáculo e exclame: Mas a isto é que "eles" chamam trabalhar !?!?!?!?
Não se preocupem, "alguém" há-de pagar !

quarta-feira, junho 21, 2006

Vidinha ribatejana

Volta não volta e os suspeitos do costume decidem organizar mais uma patuscada numa qualquer taberna da região escalabitana. Hoje foi um desses dias. O eleito, um tal de restaurante Ramiro, situado nas Caneiras, bem junto à margem direita do Tejo. Sítio tão sem graça quanto original pela construção palafítica a que a subida do leito obriga.
A ementa, prévia e criteriosamente escolhida pelos confrades, assentava basicamente num arroz de polvo, o qual segundo rezavam muitos, era efectivamente de excepção. Confesso que não me entusiasmei, afinal o melhor arroz de polvo é feito em casa pela senhora minha mãe. Com muito aprumo, paciência e esmero porque os homens lá da casa estão habituados ao melhor e por isso, exigência não lhes falta, o que lhes (nos) falta mesmo é o saber e querer fazer.
A dita tasca resume-se a uma grande sala em que, qual refeitório, trolhas e engravatados sem distinção "atacam" com assiduidade as comezainas que a cozinha, com mestria, prepara diária e indistintamente para uns e outros. Tudo isto para dizer que se está perante um ambiente perfeitamente banal no que toca ao "estar" e decoração (ou falta dela) reinante.
Mas isso são pormenores. O que nos levou àquelas paragens era mesmo o polvo e seu respectivo arroz e não os telhados típicos de um qualquer gimno-desportivo. E valeu a pena. A iguaria, cozida na hora, vinha malandra e saltitante, como é da praxe. No ponto "C" (de certo) de cozedura, equilibrado no sódio e puxado na malagueta, pedia a todos os santinhos um acompanhamento à altura. Por mim, era tinto (é um defeito, confesso), mas perante o resultado do plebiscito rapidamente improvisado, a escolha, face ao farto calor reinante, acabou por recair num branco da região de Santarém. Vinha da Gouxa de seu nome, algures oriundo de Alpiarça, apresentou-se bem fresco, frutado, ligeiramente gaseificado e muito guloso. Até demais, dirá quem comigo se cruza no pós-repasto.
Tudo isto para concluir que, embora Santarém não seja uma terra gastronomicamente muito dotada, o Ramiro (nas Caneiras) é, sem dúvida, um porto seguro onde acostar o estômago, quando este parece começar a querer desfalecer perante o triste panorama de garfo e faca escalabitano . De atendimento "terra a terra", simpaticamente informal como é norma ribatejana, esta casa tipicamente vocacionada para almoços, apresenta um sem número de outros pratos muito honestos na confecção (fataça na telha, etc) e sobretudo, muito conseguidos na sua relação com o preço. Especialmente para quem está habituado ao "assalto à mão armada" usualmente praticado por terras da capital, o Ramiro encarna certamente a figura bíblica do "bom samaritano", tal é a miséria do que pede em troca de tanto quanto oferece em prazer.
Dito isto e tudo somado, se querem deliciar-se com o melhor arroz de polvo já provado fora de portas caseiras, o Ramiro é opção certeira. Se fica fora de mão, então o melhor é falarem com a senhora minha mãe e marcarem, o telefone é o 93... queriam, não queriam? É bom, mas não é para todos, só para os eleitos...ou convidados.

Confirma-se, a verdade é como o azeite, vem sempre à tona...

"Se assim não fosse, o país ter-se-ia dado conta de um facto extraordinário. Qual seja o de o F. C. Porto passar a ter um equipamento cor de laranja. Rui Rio ganhou finalmente o seu combate.

Mais depressa se vestiu o F. C. do Porto de laranja, do que a Camara Municipal do Porto de azul e branco."

in www.tomarpartido.weblog.com.pt

Gente sensata


"Uma nova Lei do Cinema não deve servir, como alguns pretendem, para obrigar os portugueses a ver os filmes que se fazem, mas para permitir aos portugueses fazer, enfim, filmes que se vejam».
António Pedro Vasconcellos
Dito desta forma nua e crua, parece uma evidência de la Palisse, mas a verdade é que, bem vistas as coisas, não se entende porque é que afinal é tão difícil fazer cinema português "que se veja" ?
Tenho de ser justo, não passo pelo cinema português há um bom par de anos (e não tenho saudades, mas tenho pena, isso sim!) e admito que, de lá para cá, algo tenha mudado na cinematografia lusa. Não é preconceito ou dogma meu, antes um trauma ainda mal curado que teve a sua génese há longos anos a esta parte no cinema King, ao tentar visionar um filme tão suculento como o nome deixava já antever: "Ossos". Não fosse a minha localização central no dito recinto e uma fila "estranhamente" apinhada de pseudo-cinéfilos persistentes e aparentemente rendidos na indiferença à banhada colectiva que presenciávamos e tinha-me pirado muito antes do relógio me mostrar à evidência que 5 minutos haviam passado com a lentidão própria de um "discurso" televisivo de Mário Zambujal.
Ainda nesta matéria, há pouco tempo e aquando da minha escapada madrilena me perguntavam, entre o incrédulo e o horrorificado, mas por que raio tinha eu ido ver um filme português? Duas interrogações aparentemente contraditórias tomaram conta do meu espírito :
1) Estou perante gente preconceituosa e que pensa (com alguma razão) que somos uma saloia província espanhola e como tal, cinema não anglo-saxónico, só mesmo o produzido pelo Pedro Almodôvar ?
2) Como é que alguém que eu sei de antemão tão afastado do panorama cinematográfico português, pode, logo à primeira, ser tão certeiro numa observação/indagação como aquela?
Eu por mim, entre o embaraço inicial da questão e a humilhação indogenamente contida (não estivesse eu no estrangeiro) ainda acredito que se venha a fazer cinema português que se veja, logo a resposta é óbvia: vou porque ainda tenho esperança. Só não sei bem quando, antes do "exílio", não certamente.
Só espero que não seja preciso vir o "Scolari" do cinema para que tal seja possível, até porque existe toda uma nova e talentosa geração disposta a fazer melhor. O que, convenhamos, será tudo menos difícil. Mas se assim tiver que ser, então que o seja. A bem da sanidade cinéfila nacional.

terça-feira, junho 20, 2006

Assino por baixo

JÁ CÁ FALTAVA...
«Contra equipas deste nível diria que chegava o Deco», disse Pinto da Costa, com a sabedoria superveniente que o caracteriza. Diria ou diz mesmo? Tem graça que eu tive imensa pena de constatar que há quatro anos, nas mesmas circunstâncias e com equipas do mesmo nível que estas, não pude dizer o mesmo dos seus amigos António Oliveira e Vítor Baía. Eles fizeram certamente o seu melhor, mas infelizmente não conseguiram então fazer o óbvio.

domingo, junho 18, 2006

A falta que África faz...


É verdade, não podia deixar de fazer menção ao Mundial 2006. Não tanto para falar de tácticas ou de qualquer outra ocorrência relativa ao que se passa dentro das quatro linhas, mas antes para dar nota do que se passa fora das mesmas.

É impressionante a força mediática deste mundial da Alemanha 2006 e a enorme convivência inter-cultural que ele permite. Futebolite aguda ou cobertura proporcionada à escala do interesse global que o evento gera, a verdade é que os mundiais adquirem um gosto muito especial, exactamente por ser mais ou menos representativo das nações dos cinco continentes deste nosso mundo. E assim, todos aqueles se deslocam à Alemanha, tomam inevitavelmente parte num caldo cultural que qualquer europeu da modalidade está longe de conseguir alcançar, por razões óbvias.

Olhando o aspecto das bancadas do República Checa Vs. Ghana, dei por mim a pensar que devia estar perante o jogo de bancada mais encantador deste mundial. Por um lado, as já bem conhecidas e reputadas adeptas checas e por outro, a massa incrivelmente entusiástica africana, no caso, os ganeses.
E são estes últimos que merecem uma atenção especial hoje, não fosse emprestarem um jeito tão tipicamente africano e festivo a cada jogo da sua selecção, não me fazendo por um minuto sequer duvidar que efectivamente África tem de ter uma espécie de encantamento, aliás, já por demais relatado por muitos dos quantos já por esse continente estiveram, ainda que a razão ou fundamento do mesmo nem sempre consiga passar nessa mesma mensagem. Acredito que é caso para dizer: ver para crer ou melhor, ir para sentir.
E apaixonados se apresentam os africanos no velho continente futebolístico, dispostos a demonstrar o seu modo de estar na vida, completamente alheados dos canônes do chamado mundo desenvolvido, emprestando uma cor e uma alegria tão genuína que não podia deixar de ser aqui por mim enaltecida.

Lamentar apenas que hoje África continue a ser ainda (em maior parte dos casos) sinónimo de fome, miséria, corrupção e sobretudo de guerra.
Faz falta ao nosso planeta azul (eu digo que é verde) um continente africano tão coloridamente pintado, quanto os adeptos (alheios aos resultados) vão fazendo a festa neste mudial, por forma a varrer de uma vez por todas com os tons teimosamente sombrios que persistem em marcar o presente de um continente tão rico de passado, mas acima de tudo tão cheio de futuro.



sexta-feira, junho 16, 2006

A globalização, por Professor Karamba


O seleccionador de Angola - Oliveira Gonçalves - fala melhor português que o seleccionador de Portugal. Será isto a globalização?

A propósito, dei por mim - aquando do golo de Portugal contra os Palancas - a ver o treinador de Angola, qual Professor Karamba, a olhar desesperadamente incrédulo para um pequeno livro que ostentava na mão direita. Nada de especial, não fosse o ar desnorteado e desiludido com que fitava aquilo que parecia então ser um qualquer livro técnico sobre o ABC de um treinador. E o seu rosto de incredulidade deixava perspassar a ideia de que estranhamente ou talvez não, no dito livro não constava qualquer capítulo relativo a um golo da equipa adversária. Injustiça é o que é! Um homem compra um livro e depois é atraiçoado daquela maneira vil e infame.
Bem entendo o seu desânimo, afinal era a primeira vez e quando assim é ninguém quer fazer má fugura. Não fez má figura por ter perdido, mas convenhamos que um compêndio de instruções nunca podia augurar uma estreia auspiciosa.
Ora, se este é o denominado Mourinho africano (como muitos clamam), recomenda-se uma reciclagem formacional junto do seu mentor.

O Professor Karamba é uma figura simpática e gabo-lhe o seu português, agora faça-nos um favor: "Não negue à partida uma ciência que desconhece!" e deixe o livro no balneário.

quarta-feira, junho 14, 2006

Notas de Madrid - Parte II

Espanha está mesmo aqui ao lado e ainda assim consegue ser tão diferente (para melhor) da nossa Lusitânia. Não quero com isto dizer que seja tudo bom, porque não o é. A diferença é que no fundamental Espanha progrediu e muito, ao invés dos bacocos complexos que reinam teimosamente pela nossa república desde (pelo menos) 1974. Era suposto a democracia trazer progresso e trouxe-o, efectivamente, mas um progresso muito aquém do que alguém nascido depois de tal data poderia esperar.
Mirrados pela geografia periférica que nos coube em sorte, Portugal teima em ser um País que não se quer recentrar face aos seus interesses e necessidades. Não se negue que a localização periférica portuguesa pode ser um verdadeiro fardo de que importaria livrarmo-nos rapidamente. Não podendo nós (graças a Deus) pegar na "carroça" e montar acampamento noutras paragens, cabia aos portugueses a arte e o engenho de fazer de Portugal um rectângulo minimamente central. Afinal a periferia apenas depende da perspectiva. E o mundo não se esgota na União Europeia.
Portugal tem toda uma história e um passado que lhe permitia e permite ser um interlocutor e parceiro por excelência em países de um potencial económico incomensuravelmente superior ao do nosso próprio País, como seja o Brasil, Angola, Moçambique, etc. Mas não, prefere e faz questão de permanecer fechado e preso aos velhos e ridículos dogmas da colonização, que à falta de justificação melhor, demonstra que afinal os velhos do Restelo permanecem tão presentes quanto as personagens históricas evocadas e perpetuadas no Padrão dos Descobrimentos foram desacreditadas nos seus objectivos por essa mesma consciência masoquista e complexada.
Sejamos claros, a colonização mal ou bem, está feita e encerrada. Não vejo nos congéneres países colonizadores qualquer complexo de culpa e arrependimento permanente que faça da sua política externa para com as ex-colónias um exercício de tão miserável submissão como o levado à prática pelos sucessivos governos portugueses.
E aqui volta a entrar Espanha, que indiferente à dominante paralesia cerebral e de (in)consciência lusa, fez das suas ex-colónias terreno fértil e privilegiado rumo à expansão económica do País. Aproveitando e muito bem, para extender a sua influência às ex-colónias portuguesas. Enquanto isto, Portugal, qual ébrio ressacado, persiste em inalar os vapores da descolonização, ignorando as oportunidades do presente e hipotecando seriamente o futuro.
Portugal nunca se deu ao respeito das ex-colónias e prefere sistematicamente o caminho da capitulação. Em suma, quem não se dá ao respeito não pode querer ser respeitado. E assim não há orgulho que resista.

terça-feira, junho 13, 2006

De regresso à aldeia - Notas de Madrid - parte I

Foi um fim-de-semana intenso, pelo menos a avaliar pelo numero de quilómetros percorridos. Mas valeu a pena, aliás, Madrid vale sempre a pena, é Madrid e está tudo dito.
Em termos de restaurantes, muito ficou por visitar, não fosse ser uma cidade em que quase todas as semanas abrem novos espaços dignos de visita. Não há "escapadinhas" que aguentem tamanha dinâmica. Assim sendo - na impossibilidade de experimentar todas as novidades - optou-se por matar saudades das suculentas tapas da Lateral da calle Velásquez. E não desiludiram. Continua a ser um point muito acertado, mas recomendo que não se indo jantar muito cedo (até às 21H), então a alternativa é chegar a partir das 23H (cozinha encerra às 24H), porque de resto é verdadeiramente desesperante a espera por uma mesa. Mas vale a pena. Isto, claro, se olvidarmos a corbatera de ar duvidosamente masculino e rude que gere a chegada dos clientes e que vai chamando com uma tarimbada voz rouca e irritante os clientes aos seus lugares.
Já novidade foi a ida ao Olsen (c/ Prado), restaurante norueguês também existente em Buenos Aires. Decorado sobriamente ao estilo nórdico, resulta agradável à vista e ao estar, a que não é alheio o bom critério acústico do DJ de serviço. Nota de destaque para os cocktails de entrada, todos baseados em vodkas polacas, bem conseguidos na imagem e de agradável paladar, escondendo o elevado e conhecido volume alcoolémico da matéria-prima base. Quanto à ementa propriamente dita, não desmereceu a nenhum dos presentes o frango com cogumelos em vinagreta e pistachios ligeiramente caramelizados, tudo bem rematado com uma fatia de queijo de cabra. O mesmo se diga do magret de pato, muito apreciado, ainda que não me pareça uma escolha muito originalmente nórdica. Quanto aos vinhos, nota para uma carta bem variada quanto às suas origens e equilibrado nos preços, onde nem sequer faltava um Alvarinho português. Com uns entretens de boca, que é como bem diz com unas tapas simpáticas e essas sim mais originais, sempre acompanhadas com chupitos de vodka, é um restaurante que deu boa nota do que por ali se faz, sem que tenha sido um autêntico deslumbramento. Dipõe de um lounge bar na cave, mínimo nas dimensões mas sapiente na eleição musical, acaba por ser um espaço a levar em conta nem que seja apenas como local para a primeira copa da noite (http://www.elmundo.es/metropoli/2006/06/02/copas/1149199246.html. Por último, de referir a possibilidade de comer um sushi nórdico em que pontuam os peixes daquelas paragens, como é o caso do arenque.
Refeições à parte, foi o encontro com uma cidade que vivia intensamente o acontecimento de Domingo: a manifestação contra o terrorismo, a qual juntou em Madrid centenas de milhares de pessoas, vindas de toda a Espanha, as quais, entre outras coisas, contestavam a negociação política entre o Governo e os terroristas da ETA. E os espanhóis vieram em força para a rua. Ninguém pode imaginar o que é viver décadas de terror sob a égide da ETA e agora aceitar que se sentem uns e outros à "mesa das concessões".
Dizia-me alguém daquelas paragens que Zapatero está a destruir Espanha não só politicamente, mas também economicamente. De repente, veio-me à memória o nosso "saudoso" engenheiro, que tão pantanosamente nos deixou depois de uma deriva de despesismo acriterioso e simpatia oca de conteúdo e farta em consequências nefastas que hoje ( já sem a sua bonomia) começamos a pagar. Uma a uma.
A diferença é que Espanha tem efectivamente um poderio e uma pujança económica que Portugal jamais conhecerá, nem sequer a médio prazo. E por enquanto é esta vitalidade económica dos agentes que vai suportando a mais demagógica e kamikase governação espanhola dos últimos 20 anos. Sempre e sempre sob o alto patrocínio da Al-Qaeda, a qual através do 11 de Março elegeu o seu primeiro governo na velha Europa. Essa escolha tinha que ter um preço e este ainda não está totalmente à vista, mas que vai ser elevado, ai isso vai.

quinta-feira, junho 08, 2006

Madrid me mata !

Muita água correu por baixo da ponte ao longo desta semana infernal. Sim, infernal não só pelo calor abrasador da lezíria, mas sobretudo porque um escroque e pulha resolveu sair da toca. E logo no dia do anti-Cristo ou coisa que o valha. Coincidência ou talvez não, a verdade é que já me deu dores de cabeças suficientes. E não fosse estar tudo a coberto do segredo de justiça, lá adiantaria umas verdades sobre esta inenarrável trama. Mas não perde pela demora. Lá diz o povo com a sua sábia razão "Que pela boca morre o peixe". E assim vai ser, o "feitiço virar-se-á rapidamente contra o feiticeiro". E o mais certo é ainda vir a arrepender-se.
Mas isso deixa de ser da minha conta. Aliás, eu já tenho contas que cheguem, curiosamente quase todas a zeros, as bancárias, claro.
Passado este capítulo do 666, cá me encontro no meio de uma verdadeira pucilga de processos para contestar, responder, alegar, etc. Voltei ao mesmo, à velha e boa tradição de nunca vislumbrar o tampo da minha secretária, o que até pode ser positivo, porque afinal sempre posso imaginar que se trata de uma elegante mesa de faia. Mas não é e tenho pena.
Entre este emaranhado processual de prazos em cascata, que decidiram findar todos por alturas deste final de semana, lá arranjei um tempinho (tem de ser) para organizar um ida a terra de nuestros hermanos. Há muito tempo que não vagueio por aquelas paragens e tenho saudades. Sei que são mútuas e muito quentes, não fossem estar por lá cerca de 35 graus de temperatura . Confesso que me agrada muito mais a cidade na época de Inverno, tem mais alma e os nativos, ao contrário do que acontece em tempos de maior calor, não se assustam com temperaturas a rondar os zero graus e invadem literalmente as calles com uma mistura intensa de perfumes e tagarelice, tão própria por aquelas paragens.
Com muito frio, é certo, mas ainda assim um frio saboroso e próprio de quem anda de vacaciones (ainda que de médico) entre as griffes da moda no elegante barrio de Salamanca, as tiendas trendy de Fuencarral, sempre mas sempre, sem esquecer uma passagem pelo tasco do Alberto, situado na calle Galileo, onde muito aturo os suspeitos do costume por causa do seu já famoso, entre as hostes tugas, licor de hierbas. Não fosse o Alberto português dos sete costados e já teria havido confusão a sério no boteco. Mas assim não sendo, tudo acaba em bem.
Deixando os vapores ébrios do transmontano Alberto, e num registo mais aprumado, é obrigatória uma visita ao José Luís, restaurante no final da calle Serrano ao desaguar à Castellana, e provar as suas bem preparadas tapas, que se querem maridadas com un tinto da Rioja ou Ribera del Duero, mas que também não desalentam quem opte por um mais mundano tinto de verano ou a habitual caña. Ainda que não aconselhe esta última hipótese, a menos que se seja apreciador da cerveja pouco gasosa, para não dizer inerte, que por ali habitualmente se serve.
Com o registo mais formal do José Luís pelas costas, merece menção a "Lateral" no bairro de Salamanca, não obstante não ser propriamente uma novidade, nunca deixou de ter os seus encantos. E as casas cheias com que que os seus donos são presenteados nos finais de semana dão boa nota de um serviço agradável a que, aliado a uma frequência bem simpática, não desmerece uma visita. Mas que não se quer demasiado tardia porque não aceitam reservas.

A continuar...

segunda-feira, junho 05, 2006

Já espreita...

Pois é, entrei em contagem decrescente. Até Julho é um passo e há que aproveitar todos os fins de semana até lá. Incluído o que ontem findou. Desde japa food a umas saídas nocturnas, passando pela praia e sem esquecer um "ir de compras" (ainda que sem nada comprar), de tudo se fez um pouco este fim-de-semana. Sobretudo, tudo com mais intensidade. Afinal, o espectro do exílio aproxima-se a um velocidade maior do que eu provavelmente gostaria. Mas é mesmo asim e não me queixo deste fado. Certamente que há piores, mas já agora gostava de exemplos...

Ontem, foi o regresso balnear após a saga mosquiteira que se havia abatido sobre o litoral deste País à beira mar plantado. E não correu mal, não senhor. Mosquitos nem vê-los, os miúdos dos Morangos, muito menos. Enfim, tudo se conjugou para que, com a ausência de vento, se disfrutasse da muito simpática esplanada do Guincho. Assim, poucos minutos depois já a sangria corria escorreita entre jarro e copos, sem grande paragem nestes últimos. Afinal, estava calor e o ambiente convidativo ao dolce fare niente. E assim foi, nada se fez. Pôs-se a conversa em dia, traçaram-se planos de férias dignos de Willy Fog que, como a experiência me vem demonstrando, saiem mais das vezes completamente gorados. Mas haja esperança e saia lá mais um jarro que esta conversa sobre férias deixa-me sempre a garganta seca.

quinta-feira, junho 01, 2006

Um sorriso por mil palavras

Hoje tinha muito sobre o qual escrever, mas não o vou fazer. A perda voltou a marcar o hemisfério familiar no dia mundial da criança. Não deixa de ser irónico que no dia em que se festeja a vida, a esperança nas gerações que agora dispontam, se encerre esse mesmo ciclo de alguém que muito tinha ainda para dar à vida de todos nós. Não é um lugar comum, é mesmo assim.
O meu Tio Domingos era efectivamente a jóia em pessoa, sempre bem disposto, sempre disponível. Com um sentido de humor apurado e refinado pela tarimba da vida, este é concerteza o tio a quem devo hoje um aproximado sentido de humor e de capacidade de jogar com as palavras. Ninguém é perfeito, era um ardente benfiquista. Aliás, foi sobre essa problemática (sim, porque o Benfica é mesmo um problema) que me despedi da última vez que o vi em vida. E foi com o seu habitual sorriso que me viu deixar o quarto em que acabou por passar o seu purgatório terreno. E é isso que eu retenho: o seu omnipresente sorriso. Não merecia sofrer tanto, niguém merece, na verdade.
Ainda assim, sempre acreditou que não se livravam dele assim, levado por uma doença silenciosamente assassina, como acabou por ser, infelizmente, o caso.
Foi um autêntico lutador, contra a razão dos factos, contra a ciência e outras tantas vezes contra o desânimo e tristeza da família e amigos que sempre o acompanharam no silêncio do destino deste tortuoso caminho por ele percorrido.
Um autêntico toiro bravo, tal a garra e bravura demonstrada nos tempos de peleia. E peleias não lhe faltaram nos últimos tempos. Não venceu, niguém vence. Mas caíu de pé, por amor à vida e a todos nós. Não o esquecerei, muito menos o seu SORRISO.
"O destino conduz o que consente e arrasta o que resiste"